Capitalismo Evolutivo e a Escassez do Solucionador In Loco
- Marta Dantas

- 28 de nov.
- 3 min de leitura
Por séculos, a economia foi definida como a ciência da escassez: administrar recursos limitados diante de desejos humanos infinitos. Ouro, terras, cargos e prêmios sempre foram disputados porque não havia para todos. Essa lógica moldou o capitalismo clássico, baseado em competição, diferenciação e hierarquia.
Mas o século XXI trouxe uma ruptura. O Velho Mundo material continua operando na escassez — só existe um primeiro lugar em um concurso, só existe uma quantidade finita de cimento. Já o Novo Mundo digital e intelectual opera na abundância — ideias, dados e arquivos digitais não se esgotam quando compartilhados.
É nesse contraste que nasce a nova economia regenerativa, sustentada por dois pilares complementares:
Escassez simbólica: prêmios, reconhecimento e status continuam limitados. É essa limitação que dá valor e mantém vivo o motor da competição.
Abundância prática: informação, tecnologia, resíduos reaproveitados e redes de colaboração multiplicam-se sem fim, criando novos campos de prosperidade.
O Capitalismo Evolutivo depende desse equilíbrio: a abundância abre o tabuleiro para todos jogarem, e a escassez define quem se destaca em cada rodada.
O Fator Humano: O Valor que Não se Replica
Nesse cenário, surge a questão central: onde entra a Inteligência Artificial e onde permanece a soberania humana?
Conhecimento Explícito – A Abundância da IA: A IA democratizou o acesso ao conhecimento explícito: dados, manuais, códigos, cálculos. Isso virou commodity. Ter acesso à “melhor técnica” deixou de ser diferencial competitivo e passou a ser apenas o pré-requisito básico.
Conhecimento Tácito – A Escassez Humana Original: O que a IA não possui é o conhecimento tácito: a intuição, a vivência sensível do território, a empatia e o “olhar cultural” que só a experiência humana constrói ao longo do tempo.
Resolutividade Situacional – A Nova Escassez Premium: O diferencial supremo é a capacidade de resolver problemas imediatamente, de forma criativa e eficaz, in loco. A IA opera em ambientes probabilísticos, mas o mundo real é caótico. Quando o planejado falha no canteiro de obras ou quando uma crise explode em tempo real, a IA não tem corpo nem agência física. O valor supremo é a habilidade de estar presente, ler o contexto não-digital (o cheiro, a tensão no ar, a falha do material) e improvisar uma solução cirúrgica instantânea. Essa é a “inteligência do caos”: transformar o erro em solução antes que ele vire prejuízo.
A Arquitetura Regenerativa Global (ARG)
A ARG se torna o campo de prova dessa nova economia:
Renda Regenerativa Ativa (RRA): valorização não só do projeto (teoria), mas da intervenção física e resolutiva no território (prática).
Educação Viva: transmissão do conhecimento tácito e da capacidade de improviso entre gerações.
Justiça Regenerativa: reparações históricas e transparência radical.
Economia Circular: transformar resíduos em valor através da criatividade imediata.
Protagonismo Comunitário: a vivência local superando a teoria global, pois quem vive o problema tem a agência mais rápida para a solução.
Nova Premissa da Economia Evolutiva
“A Economia Evolutiva é a ciência social que estuda como as sociedades articulam a abundância de conhecimento explícito e recursos circulares com a escassez de sabedoria tácita e capacidade de resolução imediata, para transformar desejos ilimitados em prosperidade regenerativa e reconhecimento individual.”
O que mudou na definição?
De “administrar” para “articular”: Na velha economia, racionava-se o pouco. Na nova, conecta-se o muito (tecnologia) com o raro (agência humana).
A Tríade de Recursos
Abundância: motor da produção (IA, técnica).
Escassez de Status: motor do desejo (prêmios, reputação).
Escassez de Agência: motor da segurança (resolutividade in loco e criatividade sob pressão).
Objetivo Final
Prosperidade regenerativa para o coletivo.
Reconhecimento individual para o ego.
Eficácia imediata para a realidade física.
Síntese
A velha economia administrava a escassez de bens. A nova economia cria valor a partir da abundância de informações. O Capitalismo Evolutivo prospera unindo os dois, mas adiciona um novo rei ao tabuleiro: o solucionador in loco.
Enquanto a IA detém o conhecimento do passado e a probabilidade do futuro, apenas o humano detém a ação do presente. Essa é a revolução: transformar a escassez de “quem resolve agora” no ativo mais valioso, garantindo que, na era pós-IA, o fator humano seja não apenas sensível, mas essencialmente operante e decisivo.
Publicado no dia 27 de novembro de 2025, no LinkedIn.



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